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MANUS: Entrevista com Jayme Bertelli, referência mundial no tratamento do plexo braquial
Jayme Bertelli, renomado especialista no tratamento de lesões do plexo braquial e paralisias de nervos periféricos, é uma figura de destaque na medicina mundial. Com carreira acadêmica impressionante, incluindo formação pela Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade de Paris VI (Pierre e Marie Curie) e Universidade de Paris V (René Descartes), Dr. Bertelli possui especializações em Cirurgia da Mão e Microcirurgia em Buenos Aires e Paris. Atualmente, é professor de Cirurgia na Universidade Federal de Santa Catarina e um dos principais especialistas em Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Cirurgia das Mãos.
Nesta entrevista, Dr. Bertelli compartilha suas experiências, desafios e as expectativas para o 44º Congresso Brasileiro de Cirurgia da Mão, o qual será presidente de honra.
[SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA DA MÃO] Como surgiu a sua paixão pelos nervos periféricos?
[DR. JAYME BERTELLI] - Desde o início do curso de medicina eu já me interessei pela anatomia dos nervos periféricos e esse interesse foi crescendo à medida em que fui estudando mais sobre o assunto.
[SBCM] Sua trajetória acadêmica é impressionante, com uma grande produção científica. De onde vêm as ideias para novas técnicas e publicações?
[JB] - De uma dedicação e de um interesse genuíno pelo paciente. Escutando-o e tentando resolver casos complicados. O paciente sempre é a fonte de inspiração. Com uma ideia em mente, elaboramos uma parte experimental em laboratórios de anatomia e neurociência.
[SBCM] Os resultados das reparações das lesões nervosas ainda não são satisfatórios. O que vai mudar o prognóstico destas lesões?
[JB] - A cirurgia dos nervos periféricos é uma área relativamente nova na medicina. Enquanto cirurgias como apendicectomias, mastectomias e trepanações já eram realizadas antes de Cristo, a intervenção nos nervos só começou a se desenvolver no século passado. Até então, acreditava-se que tocar um nervo poderia causar convulsões no paciente.
Na era moderna, entre as décadas de 1960 e 1990, tivemos avanços significativos com o advento da microcirurgia e dos enxertos nervosos. Desde os anos 1990 até o presente, houve um despertar para as transferências nervosas distais, aplicadas não apenas nas lesões dos nervos periféricos, mas também nas lesões da medula espinhal, um trabalho que iniciamos. No entanto, acredito que o futuro do progresso reside na biologia, com novas drogas para estimular a regeneração axonal, e na biomedicina, com o desenvolvimento de próteses avançadas e interfaces neurais.
[SBCM] Em sua opinião, quais são os maiores desafios e as maiores recompensas na sua área de atuação?
[JB] - Os desafios são fazer a função perdida voltar ao normal ou quase. Um aspecto muito importante, antes de restabelecer as funções, é a cura das síndromes dolorosas. Especialmente nas lesões do plexo braquial. Talvez, acho que esta seja uma das maiores recompensas, ver um paciente que sofreu com dores lancinantes durante anos e depois de uma cirurgia nervosa ficar curado. Me lembro de um paciente que teve uma lesão do plexo braquial e desenvolveu uma síndrome dolorosa terrível. Depois de uma cirurgia bem-sucedida, se livrou das dores e, por 15 anos, ele me ligou na véspera do Natal para agradecer.
[SBCM] Quais avanços tecnológicos ou novos métodos de tratamento o senhor considera mais promissores para o futuro da cirurgia do plexo braquial?
[JB] - Antes da cura da lesão do plexo braquial, virá a prevenção. No futuro, com a tecnologia avançando, estes acidentes desaparecerão, antes que uma cura definitiva seja alcançada. É a mesma história das vacinas. Sabemos prevenir, mas não tratar algumas doenças. De todas as maneiras, como coloquei acima, a biologia ou bioquímica aliadas à biomedicina terão uma participação fundamental no progresso futuro.
[SBCM] Como o senhor vê a importância da interdisciplinaridade e da colaboração internacional na evolução dos tratamentos para lesões nervosas?
[JB] - A interdisciplinaridade e a colaboração internacional permitem que pontos de vista sobre diagnóstico e tratamento sejam encarados diferentemente. Os encontros de pares e as discussões acadêmicas são sempre fontes de ideias e inspirações para tratamento de casos complicados.
[SBCM] Durante o MÃO 2024, o senhor estará envolvido em várias atividades importantes. Pode nos dar um panorama do que podemos esperar de suas palestras e participações?
[JB] - Não somente das minhas apresentações, mas de todos os convidados. Eu vejo um congresso que vai apresentar muitas inovações, pois conheço os palestrantes e sei que estão preparando com afinco suas comunicações. O Dr. Antonio Carlos da Costa, presidente do congresso, cedeu um espaço para a Fundação Ibero-Americana de Paralisia Obstétrica, da qual faço parte juntamente com os doutores Soldado, Rojas e Levaro, para apresentarmos e convidarmos participantes do congresso a se unirem a nós em uma das missões para tratamento das paralisias obstétricas, malformações congênitas, hemiplegia e tetraplegias realizadas em diferentes países da América Latina. Esperamos que seja um local para nos reunirmos e trocarmos experiência.
[SBCM] Em sua opinião, além da programação, o que faz o Congresso de Cirurgia da Mão em Florianópolis ser imperdível?
[JB] Além do alto nível científico do congresso, que contará com diversos convidados internacionais e nacionais, Florianópolis é uma cidade mágica, daí o apelido “Ilha da Magia”. Santa Catarina é o estado mais seguro do Brasil e, além das praias, possui uma gastronomia bastante diversificada. Lembro das famosas ostras da região, que têm ainda mais qualidade no inverno, justamente na época do congresso.
Uma dica final para os colegas que vêm de regiões tropicais: preparem os casacos, pois pode fazer frio!










